Da transitoriedade da vida
Quando comecei a estudar logoterapia, não muito tempo atrás, um grande propagador da mensagem de Frankl no Brasil trouxe a seguinte mensagem de Frankl: “quando somos tão duramente postos a prova… confesso que é nessa hora que tudo precisa ter um sentido.” Tempos depois encontrei o trecho no livro O que não está escrito nos meus livros, uma frase que ele disse ao seu amigo Paul Polak.
As provas que a vida nos coloca, a questão da finitude e um dos itens da Tríade Trágica elaborada por Frankl é certamente um desafio ao pensamento do ser humano. Este foi o tema abordado pela professora Sarah Xavier no módulo de Logoterapia aplicada aos cuidados paliativos e enlutamento pela Casa do Sentido.
Algumas reflexões que a professora Sarah nos deixou: A morte é que confere sentido a existência. A finitude nos ajuda a pensar no nosso viver. Luto é uma característica existencial humana. E uma pergunta que profundamente nos leva a refletir nossas escolhas: O que se faz em vida já que a morte é uma possibilidade?
Olhando ao meu redor, um “redor” bem próximo eu diria… Começo a pensar sobre o quanto as pessoas estão com os olhos abertos e atentos às suas possibilidades. Será? Vejo, por exemplo, casais que passaram mais de 50 anos juntos e nunca se comunicaram, nunca puderam se perdoar. Vejo homens obesos negligenciando sua saúde e o amor daqueles que estão ao seu redor. Vejo mulheres que desprezam a comunicação e o viver a dois, para viver em função apenas daquilo que consideram justo à sua medida. Vejo noras e genros que desprezam todo o aprendizado de vida que um dia tiveram de seus sogros. Vejo pessoas que colocam suas ideias e opiniões acima da liberdade daqueles com quem convivem. Vejo gente amargura com um passado sem se dar oportunidade de se perdoar e perdoar os que lhe feriram. Vejo opiniões rústicas, maldosas, egoístas. Vejo seres humanos que não conseguem se distanciar daquilo que são para olhar dentro de si.
E eu vejo quanta oportunidade se perdendo, porque o presente é apenas um momento, de num sopro tudo se vai.
Sempre lidei muito bem com a morte. Tenho bastante facilidade para separar o ser que se foi do corpo presente. Já fui julgada por ser “fria”, mas na verdade entendo bem que lidar com a morte para mim é saber que esta vida deve ser vivida com liberdade e responsabilidade. Como a professora Sarah falou, talvez eu esteja mais atenta a horizontalidade dos sentidos na minha vida. Sempre que penso na finitude sou capaz de ampliar minha visão e enxergar novas possibilidades de ser. Realizo meus valores de experiência com mais clareza, pois tenho uma maior compreensão das minhas relações presentes, sem cobranças e sem comparações, mas reconhecendo aquilo que foi realizado no passado e pensando que um dia o fim chegará. Isto me torna realisticamente presente neste momento.
Vivo minha vida sob o olhar frankliano de que tudo é transitório na vida, mas tudo se faz eterno da existência.