Das manifestações das neuroses coletivas

Debora Torres (Career and Care)
3 min readMay 26, 2021

“Emitir juízos coletivistas, serve afinal para fugir à responsabilidade de uma opinião pessoal. Ocorre assim que a maioria das pessoas hoje em dia não tem opiniões, as opiniões é que as tem. O ponto de cristalização da opinião coletivista são os slogans. Se eles não existissem, poderia surgir em lugar das generalizações totalitárias aquilo que tanto faz falta: a complementação integral dos pontos de vista.” — V. Frankl, O Sofrimento Humano, 2019, p.286

A frase acima resume todo o sentimento que perpetuou meu ser durante a explanação da professora Luciana Tellesna aula de Situações Limite II pela Casa do Sentido.

Em seu livro O Sofrimento Humano, Frankl relata sobre tipos de manifestações de neuroses coletivas. São elas:

1) A atitude provisória diante da vida, uma tomada de decisão sem alargamento de visão, com pensamento apenas no hoje.

2) A orientação fatalista diante da vida, a crença de que aquilo que é vivido não é possível de ser mudado, “Já que o destino é imutável, porque eu deveria fazer algo”? — o que exime a pessoa de sua responsabilidade perante a vida.

3) Pensamento coletivista, o homem absorvido pelas massas, seguindo a opinião das pessoas.

4) Fanatismo, que ignora a personalidade do outro, que não considera o outro como outro, não aceita a opinião alheia. O que pensa diferente é tido como inimigo.

O assunto obviamente é bastante atual, se olharmos para as marcas que a crise sanitária está deixando no mundo. Estamos vivendo uma era onde não há respeito pela opinião alheia, há uma certa vivência pela opinião das massas, há uma negação para assumir a responsabilidade e entender que o homem precisa tomar o destino em suas mãos, sabendo que sim, depende dele. A tal polarização a que o mundo já vinha sendo exposto e se intensificou com a pandemia, que inclusive foi colocada no contexto da aula por um dos colegas exacerbou ou quiçá deixou mais exposto estas manifestações

Isto também me levou a buscar um livro que por algumas vezes já citei a amigos, familiares e parentes. Temos um péssimo hábito de escolher um lado e seguir. O livro “The Third Option” escrito pelo pastor negro Milles McPherson fala exatamente sobre as coisas que nos unem e não as que nos separam. Segundo ele: “a cultura desempenha um grande papel na perpetuação do racismo ao insistir erroneamente que existem apenas duas opções que você pode escolher entre nós ou eles. A cultura coloca um grupo de pessoas contra outro ao promover uma mentalidade de jogo de soma-zero que diz: Você deve perder para que eu ganhe.”(trad. livre) — Uma terceira opção contrasta fortemente com as duas oferecidas pela cultura. O que McPherson coloca nas mãos de DEUS, mas se você não for cristão ou não acreditar no divino, pode chamar isso de bom senso. Ele continua: que a terceira opção nos capacita a ver a pessoa através dos olhos de DEUS. Trazendo para o contexto da Logoterapia, podemos pensar na Autotranscendência, a característica constitutiva da existência humana de que nos fala Frankl: “Quanto mais a pessoa esquecer de si mesma — mais humana será e mais se realizará” (Em busca de Sentido, 2017, p. 135).

Por fim trago a reflexão de Alex Pattakos que pontua em seu livro Prisioneiros de Nossos Pensamentos (2010, p. 152) que vivenciamos o sentido mais profundamente quando trabalhamos criativamente e produtivamente com o próximo, que trabalhar para o bem dos outros nos traz recompensas imensuráveis. Um pouco mais a frente (p. 157) ele cita uma expressão zulu que quer dizer: “ A pessoa só é uma pessoa por meio das outras pessoas”. Que faço um paralelo no que foi apresentado pela professora Luciana: “A forma agressiva como nos relacionamos conosco mesmos impacta diretamente nas relações com os outros”. Ou seja, se eu decido agir respeitosamente comigo mesmo, também o farei com os outros ao meu redor; e, se eu entendo que tenho muitas coisas em comum com os outros ao meu redor, que não estamos em oposição, possivelmente sairei dos polos e entenderei que há um legado de possibilidades e esperança.

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Debora Torres (Career and Care)

Psicoterapeuta, Logoterapeuta, Apaixonada por indivíduos, Humana, Sorridente, Tornando cada dia melhor