Do Sofrimento de Uma vida sem sentido
Sabemos que não precisamos sofrer, no entanto Frankl nos chama a atenção para o sentido que pode ser alcançado mesmo em meio a sofrimento. Nos últimos anos tenho me aperfeiçoado em diversas áreas do conhecimento, como Cuidados Paliativos, Luto, Psicologia Hospitalar, mas confesso que o ensinamento de Frankl fez muito mais sentido depois da aula de Situações-Limite apresentada por Sam Cyrous pela Casa do Sentido.
O professor Sam nos trouxe que quando falamos de sofrimento a luz da logoterapia falamos sobre a aceitação do sofrimento, sobre transcender o sofrimento. Falou sobre o quanto a dor e o sofrimento se despertam todos os dias e que isso acaba produzindo uma reação de certa forma instantânea e imediata de rejeição.
Sam trouxe uma reflexão muito importante, que confesso que pratico, mas vejo colegas pais com dificuldade. Precisamos ensinar nossos filhos a sofrerem. Nossos filhos precisam aprender a encontrar sentido no sofrimento. E, por vezes vejo tantos pais resguardando seus filhos, superprotegendo-os evitando que eles tenham contato com a dor, a culpa e a morte.
Neste sentido, me parece apropriado aqui refletir para a sociedade que estamos criando. Que filhos temos criado, como serão estes filhos no amanhã? Temos evitado que eles vivam momentos de tensão? Temos protegido nossos filhos além do necessário? E trago para tanto, um trecho de Frankl:
“O que ele [o ser humano] necessita não é a descarga de tensão a qualquer custo, mas antes o desfio de um sentido em potencial… O ser humano precisa … daquilo que chamamos “noodinâmica”, isto é, da dinâmica existencial num campo polarizado de tensão, onde um polo está representado por um sentido a ser realizado e outro polo, pela pessoa que deve realizá-lo” — V. Frankl, Em busca de Sentido, 2017, p.130
Como mãe me questiono sobre as interações que tenho com minha filha. Posso dizer que com apenas 10 anos ela já foi exposta a muito mais possibilidades de realização e frustração do que eu. Olhando para a vida que vivi até o momento, posso refletir a respeito de quanto fui protegida das experiências do mundo e acabei ficando limitada. Mas obviamente tal limitação não me impediu que eu encontrasse um caminho. Isto porque muito embora sem perceber havia um sentido para tudo o que acontecia. E há um sentido. Sempre há um sentido.
Sam nos propôs um exercício: O que você vê quando olha para seu futuro? — eu vejo vida em abundância e muitas realizações. O que você guardou do seu passado? — experiências positivas e negativas com coisas, lugares, pessoas e situações, experiências profundas. Você está fazendo o seu melhor para selecionar as possibilidades e guardá-las? — Sim, com o olhar amplo posso enxergar o maior número de possibilidades possíveis para fazer as melhores e mais significativas escolhas no hoje.
Frankl nos ensinou que realizamos sentido através de valores de criação, valores de experiência e valores de atitude, estes últimos são a posição que assumimos frente as condições que a vida me coloca de sofrimento inevitável.
Não seria então plausível pensarmos que ao incentivarmos nossos filhos a realizarem valores de atitude, estamos ajudando-os a desenvolverem sua capacidade de realizar sentido ainda que em situações adversas, a terem ações responsáveis acerca de seu futuro. Precisamos ensinar nossos filhos que o passado é uma aprendizagem e que suas vidas serão potencializadas de tensões. E que sim, eles precisam ser ativistas para o futuro e não meros expectadores.