Este não é apenas mais um artigo sobre liderança
Estou com 40 anos de idade. E acabo de fazer uma descoberta incrível. Vocês entenderão em breve o porquê deste “incrível”, pelo fato de eu ter estudado psicologia.
Durante minha infância fui “tachada” de sonhadora, viajante. Em geral, nas salas de aula, eu sentava-me próximo da janela. Enquanto os professores passavam as explicações eu estava pensando em mil coisas ao mesmo tempo. Aprendi a ler e escrever muito rápido, com ajuda de minha mãe, mas aos 4 anos eu já podia ler e escrever, o que me fez entrar mais cedo na escola. Isto logo no início dos anos 80. Eu era vista como uma criança muito inteligente e era cobrada por isto. Precisava sempre atingir as notas mais altas porque este era meu rótulo. Com o passar do tempo, dada a dificuldade de concentração, fui saindo da proximidade da janela e sentando-me nas primeiras carteiras. E, claro, fui tachada de “nerd”. Me lembro que durante o ginásio, nos grupos de amigos, as colegas às vezes precisavam repetir 3 vezes o que falavam, porque eu não entendia. Não, eu não tinha problemas auditivos.
No colégio, lá fui eu de novo, para a proximidade da janela. Qualquer coisa me desviava a atenção, um colega escrevendo, alguém passando no corredor, um barulho do lado de fora; uma vez desfocada, voltar era um sacrifício. Nesta mesma fase, eu apesar de aparentemente ser uma adolescente calma, tinha picos de impulsividade. Como consequência de tudo isto, acabei entrando na faculdade muito cedo também. E as cobranças continuavam o que fizeram com que aos 17 anos, eu passasse 3 dias em claro e tivesse uma estafa. Acabei abandonando o curso de Economia, porque não me preenchia e fui para o curso de psicologia, onde me descobri. Descobri o quanto gostava de falar de “gente”. E foquei no mundo corporativo onde passei trabalhando os últimos 20 anos de vida.
Assumi minha procrastinação recentemente. Entendi que muitos de meus objetivos não fluíam, porque eu procrastino. E descobri que isto ocorre principalmente quando uma atividade não me traz prazer. Tenho o costume de esquecer. Esqueço tudo, sou capaz de combinar algo e em 15 minutos esquecer. Por conta disso, tiver que desenvolver alguns métodos de organização ao longo dos anos. Agendas, cadernos, post-its, e muito mais.
Também consegui perceber que depois do colégio, como já não havia um certo peso de cobrança, eu passei a entregar o suficiente para passar de ano. Por outro lado, eu tenho uma paixão por livros, leio muito, adoro conhecer, aprender, estudar. Mas não gosto de cobrança, então, ler é uma paixão, desde que não seja por obrigação. As tarefas que não gosto, sempre ficam por último e, muitas vezes passam da hora.
Tenho uma filha de 9 anos. Meu marido e meus pais costumam dizer que ela é uma “mini-Débora”, eles identificam muitos de meus comportamentos nela. Há cerca de um ano minha filha foi diagnosticada com TDAH. Estou formada há muitos anos e sem a prática clínica, muitos conceitos acabam se perdendo. Mas tenho me aprofundado no assunto e por conta do conceito biológico, resolvi “me investigar”, dado que o TDAH é um transtorno de ordem neurobiológica de causa genética. Os sintomas que descobri em mim mesma, não de hoje, mas de anos e anos atrás são: *Distrabilidade, *Desvio de atenção, *Cometer muitos erros, *Dificuldade de concentração, *Resistência em iniciar tarefas, *Dificuldade em manter o foco, *Dificuldade em terminar projetos, *Muito esquecimento, entre outros.
O que eu entendi é que o ambiente acadêmico e corporativo em que eu estive inserida ao longo destes anos influenciou positiva ou negativamente. Trazendo à tona estes sintomas ou encobrindo-os.
Tenho TDAH — Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, com predominância da Desatenção. Ele esteve presente sempre, mas infelizmente não fui diagnosticada cedo, acho que com o passar dos anos, fui me adaptando a conviver com ele, mas sem tratamento. A parte difícil disso é que os sintomas foram se arrastando e hoje, fazendo uma reflexão, os comportamentos que apresentei ao longo da vida eram identificados de forma pejorativa. A parte boa é que sempre é tempo de rever e cuidar. E agora, posso acompanhar com calma e buscar o tratamento correto.
O TDAH é um transtorno sério. Ele pode afetar a vida acadêmica, profissional, social e comunidades. E precisa ser tratado e compreendido. Primeiramente pela pessoa e obviamente por quem está ao seu redor. A conversa, a proximidade, o feedback favorecerão o conhecer melhor e o apoio. Não somente este, mas tantos outros problemas que tem afetado a saúde mental de nosso mundo corporativo. Profissionais com transtornos psicológicos como ansiedade e depressão, ou outros não são incapazes, mas precisam de cuidados específicos.
A OMS recomenda que as empresas tenham programas de prevenção de saúde mental. A prevenção, identificação e apoio na reabilitação farão dos líderes e das corporações mais humanas. RHs e líderes precisam estar unidos em proporcionar um espaço de convivência, parceiros na promoção de saúde física e mental.
Na certeza de que juntos, podemos criar um ambiente saudável favorecendo a integração entre colaboradores e líderes e alavancando os negócios gerando os melhores resultados para nossas corporações.